Santa Maria Maior

Santa Maria Maior é uma das duas freguesias urbanas tradicionais da remota vila de Viana e cidade de Viana do Castelo, juntamente com a freguesia ocidental de Monserrate. Meadela foi incluída no perímetro urbano apenas em 1988. Posteriormente incluíram-se à cidade de Viana do Castelo, também, Areosa e Darque.

Ocupa cerca de 232 ha com uma população que se situava, em 1999, perto dos 13 000  habitantes. Em 1991 o I.N.E. apontava para 9145, em 2001 para 9911 habitantes e em 2011 com 10.623 habitantes,  observando-se,  assim, que um crescimento populacional acentuado.

Vários organismos têm aqui as suas instalações: Câmara Municipal, Governo Civil, PSP, Bombeiros Voluntários, Cadeia Prisional, Administração Regional de Saúde, Centro de Saúde, Centro Hospitalar do Alto Minho, Hospital Particular de Viana do Castelo, Direção e Repartição de Finanças, Segurança Social, Tribunal Judicial, Estação de Caminhos de Ferro, Tribunal de Trabalho, Instituto da Juventude, Delegação do INATEL, Associação Empresarial,  Instituto de Segurança Social,  3 Escolas Primárias, 3 Escolas Secundárias, 1 Escola Superior, Instituto de Emprego e Formação Profissional, 2 Paróquias (N. Sra. de Fátima e Santa Maria Maior) e vários prestadores de serviços e outros.

Com a romanização do noroeste peninsular (extensiva à Citânia de Santa Luzia), assistiu-se ao povoamento progressivo e disperso, das margens e da foz do Lima. Pelos séculos IX e X pontificavam quatro “villas” na base do monte sobranceiro a Viana: Vinha (pelo poente, na atual freguesia de Areosa); Figueiredo (a mais ocidental da Viana atual, correspondendo em grande parte à freguesia de Monserrate, às portas de Areosa); Foz, depois (século XIII) com o topónimo de Adro ou Átrio (área central do chão de Viana, a sul do monte de Santa Luzia); Crasto (parte oriental, que corresponde hoje à Bandeira e Abelheira, contactando com o monte, o rio Lima e a freguesia de Meadela).

A atual freguesia de Santa Maria Maior corresponde, de grosso modo, às antigas “villas agro-piscatórias” de Adro e Crasto. Delimitada por Monserrate, no sentido norte-sul, pela Rua dos Rubins e Travessa do Salgueiro, incluindo, para norte, a Estância de Santa Luzia, e, para sul, a moderna Avenida dos Combatentes, assim como a velha Praça da República (o centro cívico, antigo Campo do Forno, depois Praça da Rainha), o núcleo antigo medieval (vila municipal com foral de 18 de Junho de 1258 outorgado por D. Afonso III, após a instituição da Paróquia de S. Salvador do Adro), arruamentos quinhentistas e seiscentistas da expansão extra-muros (Bandeira, Cândido dos Reis, Mateus Barbosa, Gago Coutinho, etc.), que hoje definem quase toda a “Baixa vianense”.

É riquíssimo o património com valor histórico-artístico nesta freguesia. Desde a Citânia de Santa Luzia (no mínimo do século III d.C., com vestígios de romanização desde o século I a.C.) e templo-monumento de Santa Luzia (ao Sagrado Coração de Jesus, projeto do arquiteto Ventura Terra, finais do século XIX), ao burgo medieval amuralhado (D. Afonso III e posterior cintura de muralhas fernandinas), em cujo núcleo despontam lavores de granito ao gosto do gótico, da arte do manuelino, do renascimento e até do Rococó e da proto-modernista Art Deco.

Salienta-se, no núcleo medieval, a Sé (igreja matriz de raiz gótica, século XV e acrescentos manuelinos em pleno século XVI), a Casa dos Arcos (de João Velho, gótica, junto da Sé), o Hospital Velho de S. Salvador, a Casa dos Luna (manuelina e renascentista, no gaveto da Rua do Poço e Largo da Matriz), a Casa da Janela Manuelina (dos Costa Barros, na Rua de S. Pedro), a Casa dos Nichos (Rua de Viana, com representações góticas alusivas à Anunciação da Virgem), etc., da expansão urbana “extra-muros”, graças à remodelação do sistema defensivo das muralhas (ainda se admira pequeno pano na caleira dos antigos Paços do Concelho) com implantação de fortim manuelino na foz do Lima, que possibilitou o incremento do comércio marítimo e fluvial (trato do açúcar brasileiro — século XVII e XVIII, ciclo dos vinhos, etc. e riqueza aurífera do Brasil), Viana cresce e monumentaliza-se. Nesta freguesia ressalta o novo centro cívico (Praça) com o seu tríptico monumental: chafariz quinhentista, Casa das Varandas (da Santa Casa da Misericórdia) em estilo maneirista e Antigos Paços do Concelho (gótico tardio).

Constroem-se inúmeros palácios e palacetes manuelinos (Condes da Carreira, Sá Soutomayor— Praça, Melo Alvim, etc.); barrocos (Pimenta da Gama, Soutomayor— Bandeira, etc.) e ainda templos e palacetes da segunda metade de Setecentos, de grande interesse artístico (Família Malheiro Reymão— estilo Rócócó), etc. O antigo Convento de Santo António dos Capuchos e o das Carmelitas Descalças (N. Sra. de Fátima) são exemplos vivos das artes seiscentista e setecentista. Antes, os conventos de S. Bento e de Santa Ana (hoje, Caridade), haviam sido edificados, preservando ainda apontamentos gótico-manuelinos (das primitivas igrejas).

A freguesia de Santa Maria Maior, ao contrário da freguesia de Monserrate, que é mais moderna, apareceu com o nascimento da Vila de Viana no tempo de D. Afonso III, no memorável dia de 18 de Junho de 1258, data em que foi instituído o Foral de Viana, embora sobre a primitiva evocação de S. Salvador.

Depois teve o nome de Santa Ana para, finalmente, ficar para a posteridade com a denominação de Santa Maria Maior.”

 

Monserrate

O arcebispo D. Afonso Furtado de Mendonça fundou a paróquia de Nossa Senhora de Monserrate, filial da Colegiada de Santa Maria Maior, em 23 de Janeiro de 1621. A igreja paroquial situava-se no lugar, onde hoje é o Largo 9 de Abril, e fora construída de raiz, fora das muralhas, no ano de 1601.

Nos finais de 1835, o Governador Civil de Viana promoveu a transferência da paróquia para o convento de São Domingos, alegando que a igreja se encontrava já muito deteriorada. Obteve também autorização da Câmara Municipal e do Conselho do Distrito para demolir o templo, ganhando assim, “um excelente campo fronteiro aos Quartéis Militares, para o exercício da tropa”. Por portaria de 1836, a 20 de Abril, a sede desta paróquia foi transferida para a igreja do convento de São Domingos, extinto em 1834.

No dia 5 de Julho desse ano, mudou-se a pia batismal para a Igreja de São Domingos e, no dia 10 desse mês, foi levado o resto do recheio, em procissão solene. A demolição da igreja de Monserrate, porém, teve lugar 80 anos depois, em 1916, não obstante a forte corrente de opinião pública que ao tempo se manifestara.

Valores patrimoniais e aspetos turísticos: Castelo de S. Tiago da Barra, Convento de S. Domingos, Igreja de S. Domingos, Igreja das Ursulinas, Santuário da Senhora da Agonia, Capelas de Santa Catarina, da Senhora das Candeias e de S. Tiago, Palácio dos Tramas, Palácio da Vedoria, Museu Municipal, Museu da Arte Sacra, Monte de Santa Luzia, Castelo de S. Tiago da Barra, Praia Norte e Campo da Senhora da Agonia.

 

Meadela

A freguesia da Meadela nasceu em meados do século XII, no âmbito da “reforma gregoriana”. No caso vertente, transformava em sede paroquial uma basílica dedicada ao culto de Santa Cristina, que seria venerada nesta região, particularmente no aro da atual freguesia. Santa Cristina é uma mártir oriental, de Tiro, na Síria, e do século III-IV. Dela teria vindo aqui parar uma relíquia, que foi instalada num “martyrium” construído num local próprio. Situava-se este em zona húmida onde vicejava um amieiral carinhosamente apreciado pelas populações. Deste amieiralzinho que identificava a ermida veio o nome da futura freguesia. Esta, identificada pelo respetivo lugar de culto ficou denominada como paróquia de Santa Cristina d’Ameadela que o mesmo é dizer “da ermida de Santa Cristina do amieiralzinho”, depois Santa Cristina da Meadela e, a partir do triunfo do laicismo, apenas Meadela.

Este território era intensa e diversamente povoado. No século XIII, a população estava dividida por três “villas”: Meialde e Parede. Nesta época, “villa” era uma identidade de povoação rural. Antigamente, teriam sido domínios territoriais, grandes unidades agrícolas, e duas delas podiam muito bem ascender à romanidade: refiro-me a Meadela e Paredes.

Com a invasão germânica, as terras foram novamente reapropriadas, instalando-se novas “villas” em fracções das anteriores, e assim teriam surgido as de Touril, Oamonde, Meialde. Ao tempo da Reconquista, aparece como objeto de presúria apenas a de Meialde, o que bem significa a diversidade de estatuto das várias parcelas que cerca de duzentos anos depois viriam a integrar a paróquia. Em 1258, os lugares habitados eram: Meialde (hoje Ameal), a Meadela, e Portuzelo, com populações livres e populações integradas (peal residência ou pelo trabalho, ou por ambas) no Couto de Paredes.

 

Fontes consultadas: Dicionário Enciclopédico das Freguesias – texto do Prof. Dr. Alberto Antunes de Abreu, Inventário Coletivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo e Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; Historiador António de Carvalho; Inventário Coletivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.

 

Lenda

“Era uma vez uma pequena povoação nascida na margem direita do rio Lima, junto à foz, quando as águas doces e vagarosas se misturam com o bravio das ondas salgadas.

Chamava-se Átrio e tinha, sobranceira, uma montanha densa de arvoredo, onde, no alto, existira a fortificação de um castro habitado por povos sem nome e que, a dada altura, desceram ao litoral, buscando, na pesca, melhor alimento e mais comércio.

Era extremamente bela, entre veigas cultivadas, palmos de hortas viçosas, redis, pomares e vinhedos.

Mas a sua principal vocação era, sem dúvida, o mar, a pesca.

E, na extensão fina de praia, várias embarcações esperavam as madrugadas para serem lançadas às vagas, com o afã dos remos, o aceno das velas e o espalhar das redes.

Pelo entardecer, as campanhas regressavam ao Átrio, para a alegria das mulheres e das crianças, com o fundo da embarcação farto de pescado palpitante: a sardinha, o carapau, a faneca, o congro…

Vinham, rio abaixo, muito habitante de outras povoações, para o abastecimento pródigo das suas mesas.

Ora morava no Átrio, na modéstia de um casebre, uma linda rapariga chamada Ana, filha de pescador e desenvolta na venda do peixe, sempre com uma canção nos lábios, ouvida a algum jogral chegado da vizinha Galiza, onde animava os serões dos paços e os terreiros das romarias.

Escutava-lhe, deliciado, estas cantigas de amor e de amigo, um jovem barqueiro que, empunhando a longa vara com que impulsionava o comprido barco de fundo chato, transportava, na correnteza do rio, até ao Átrio, várias vezes por semana, lavradores e mercadores à compra de peixe fresco e saboroso para dar prazer aos rigorosos jejuns.

De tanto escutar a voz harmoniosa de Ana e de admirar a graça, o rapaz começou a sentir pela rapariga um amor que ia aumentando dia após dia.

Confessara já aos amigos e companheiros de lida o agrado desse amor nascente.

E estes, contentes com o seu contentamento, sorriam quando o moço barqueiro, ao voltar ao Átrio, lhes atirava um brado feliz:

– Vi Ana! Vi Ana!

Um dia, porém, não se contentou em vê-la e dirigiu-lhe a palavra, num enleio que lhe corava as faces.

A rapariga percebeu, então, o vivo interesse amoroso do rapaz por ela, os olhos dele, brilhantes, sobre o rosto dela, sobre os olhos dela, sobre os cabelos dela…

E o seu coração lisonjeado retribui-lhe esse interesse, retribui-lhe esse amor.

Não tardou em realizar-se a boda dos dois enamorados.

Durante os festejos, bebendo vinho acre e refrescante gerado nos parreirais da região, os companheiros e amigos do noivo recordaram-lhe o brao entusiástico:

– Vi Ana! Vi Ana!

O dito foi logo adoptado pelos pescadores do Átrio que passaram a repeti-lo quando, vindos dos trabalhos duros da faina, se lhes deparava o vulto acolhedor da montanha, as praias doiradas, as veigas fértis, as águas lentas do rio e a paz dos seu lares:

– Vi Ana! Vi Ana!

Ao conceder o foral à povoação da foz do Lima, em 1258, o rei D. Afonso III, que a visitara tempos antes, extasiando-se com tanta beleza e prosperidade, substituiu-lhe o nome Átrio pelo de Viana.

Por certo, alguém lhe revelara aquele  brado de amor.

E só amor merece terra tão abençoada!”

 

Fonte: “Lendas do Vale do Lima” de António Manuel Couto Viana.

 

SÍMBOLOS HERÁLDICOS DE SANTA MARIA MAIOR

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Brasão: escudo de vermelho, fonte de prata repuxando água, entre dois machados arqueológicos, do mesmo; em chefe, flor-de-lis de ouro; campanha diminuta ondada de prata e azul de três peças. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “VIANA DO CASTELO – SANTA MARIA MAIOR”.

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Bandeira: amarela. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.

Selo: nos termos da Lei, com a legenda: “Junta de Freguesia de Viana do Castelo – Santa Maria Maior”.


Parecer emitido em 12 de Fevereiro de 2003, pela Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

Em 29 de Abril de 2003, o Parecer, por proposta desta Junta de Freguesia, foi aprovado em sessão da Assembleia da Freguesia de Viana do Castelo – Santa Maria Maior.

Publicado em Diário da República, nº 142, III série, página 12847,  de 23 de Junho de 2003.

Registado na DGAL de 26 de Agosto de 2003, nº268/2003.

Processo  e desenho elaborado por Carlos Alberto Mouteira Fernandes no ano de 2000.

SÍMBOLOS HERÁLDICOS DE MONSERRATE

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Brasão: Escudo de vermelho, um pano de muralha de prata com uma torre do mesmo, frestada e aberta de negro e tudo lavrado do mesmo esmalte, movente dos flancos e de uma campanha ondada de prata e azul de três tiras; em chefe, uma roda de leme de ouro e uma âncora de prata com cepo do mesmo. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro: “ VIANA DO CASTELO – MONSERRATE “.

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Bandeira: amarela. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.

Selo: nos termos da Lei, com a legenda: «Junta de Freguesia de Viana do Castelo – Monserrate».


 

Parecer emitido a 04 de Janeiro de 1999, pela Associação de heráldica dos Arqueólogos Portugueses.

Publicado em  Diário da República, nº 64, III Série de 17/03/1999.

SÍMBOLOS HERÁLDICOS DE MEADELA

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Brasão: escudo de vermelho, com um pote coberto, de prata, decorado com flores de azul, entre dois ramos de amieiro de ouro, frutados de verde, com os pés passados em aspa e atados de prata; campanha diminuta ondada de prata e azul de três peças. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “MEADELA – VIANA DO CASTELO”.

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Bandeira: amarela. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.

Selo: nos termos da Lei, com a legenda: “Junta de Freguesia da Meadela – Viana do Castelo”.


Publicado em Diário da República III série, nº 185, página 17147 de 12 de Agosto de 2003

Processo  e desenho elaborado por Carlos Alberto Mouteira Fernandes no ano de 2001.

Parecer emitido em 30 de Dezembro de 2002, pela Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

Em 24 de Abril de 2003, o Parecer, por proposta desta Junta de Freguesia, foi aprovado em sessão da Assembleia da Freguesia da Meadela.

258 824 185
santamariamaior@ufvc.pt
 
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